Publicada pelo Diário Oficial no dia 2 de maio, a lei irá garantir a isenção para aqueles doadores de medula óssea registrados em entidades reconhecidas pelo Ministério da Saúde
No último dia 30 de abril entrou em vigor o novo projeto de lei 13.656/2018, que trás como direito a isenção na inscrição em concursos públicos para quem for doador de medula óssea cadastrado no Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome). Entretanto, com a repercussão do caso, o Redome se posicionou contra o projeto.
Na tentativa de esclarecer algumas questões, o Varela Notícias foi atrás de informações sobre o assunto. Entenda como funciona o processo de registro, a doação e porque a rejeição do órgão nacional.
Registro doador
Apesar do registro para se tornar um doador de medula ser nacional, existem vários postos regionais espalhados pela Bahia que estão autorizados em realizar o cadastro. A exemplo da Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (Hemoba), localizada no bairro de Brotas, no qual o registro pode ser feito em menos de 20 minutos.
Para aqueles que estão interessados, é necessário ter entre 18 a 55 anos, estar com boa saúde e comparecer ao o local portanto documento original com foto e se identificar na recepção. A pessoa será dirigida até uma sala, na qual será feito o cadastro diretamente online por um dos funcionários. Nome, endereço, grupo sanguíneo e telefone são algumas das informações solicitadas.
Após a conclusão do registro online, a pessoa é direcionada para a etapa da coleta de sangue. “Neste momento é coletado uma pequena amostra de sangue, em torno de 5 ml, para os primeiros testes de histocompatibilidade”, explica a Diretora de Hemoterapia do Hemoba, Doutora Iraildes Santana.
Cumprindo todas estas etapas, você já pode ser considerado um doador de medula óssea registrado e ser chamado a qualquer momento. Uma vez feito o registro, não é possível se descadastrar do sistema, entretanto, ao ser convocado para doação a pessoa não é obrigada a realiza-la.
É importante manter os dados do registro sempre atualizados, pois é desta forma que o Instituto Nacional de Câncer (Inca) poderá encontrar o possível doador compatível e convida-lo para realizar a terceira e última etapa do registro: a doação.
Doação
Aqueles que são tidos como compatíveis com alguém em necessidade e são convocados para doar, receberão do Inca todo auxílio para que isto aconteça. Primeiro é necessário que se façam exames para confirmar o bom estado de saúde do doador possível de compatibilidade.
A próxima etapa é o deslocamento para um dos postos oficiais de colhimento da medula. Como na Bahia não existe nenhum ponto de coleta, apenas de cadastro, a pessoa deverá comparecer a um dos postos em São Paulo, Rio de Janeiro ou estado mais próximo para efetivar o transplante. Passagem e hospedagem do doador e mais um acompanhante ficam por conta do Inca.
Após este deslocamento, chega-se o momento dos procedimentos médicos para retirada e transplante da medula. Este pode ser feito de duas formas: punção ou aférese.
“A medula óssea é a “fábrica do sangue”, onde nosso organismo produz as células do sangue. É um tecido gelatinoso que está localizado no interior dos ossos. Por punção o médico vai com uma agulha no osso da crista ilíaca (da bacia) e retira a medula. A segunda forma de doar é pelo sistema de aférese, o doador recebe um medicamento por cinco dias, assim as células que estão na medula vão para o sangue periférico. Desta forma, este sangue é coletado pela máquina de aférese” esclarece a doutora.
Neste primeiro processo se faz necessário o uso de anestesia, por se tratar de um procedimento cirúrgico que dura em torno de 90 minutos. Através de 4 à 8 punções que se retira um volume de medula em torno de 15 ml por quilo de peso doador. Já no segundo, o procedimento é direto na veia sem a necessidade de anestésicos.
Por ser considerado procedimentos simples, o doador pode receber alta no próprio dia do procedimento ou no seguinte. A produção de medula no organismo volta ao normal dentro de 15 dias após o recolhimento para doação.
Quando se fala em números de doadores, o Brasil fica em terceira posição entre os países, com mais de 4 milhões de pessoas, perdendo apenas para os Estados Unidos e Alemanha. Regionalmente, o Ministério da Saúde entrega como meta anual para Bahia o registro de pelo menos 20 mil pessoas.
De acordo com a Doutora Iraildes, só nesse primeiro quadrimestre foram registrados quase 6 mil doadores cadastrados, quantia esta que agrega no número de 152 mil doadores baianos e assim coloca o estado como segundo na posição de mais registros feitos no Nordeste.
Esta meta precisa ser um realidade, pois segundo a médica, a probabilidade de se encontrar alguém compatível para medula é muito difícil, com proporção de 1 para 100 mil.
A administradora Danúbia Reis, tem a consciência de que sua atitude poderá ser a salvação da vida de alguma pessoa. “Diante da improbabilidade de compatibilidade, quantas mais pessoas puderem tentar, estaremos contribuindo para salvar a vida de outro ser”, conclui.
Isenção por lei
Publicada pelo Diário Oficial no dia 2 de maio, a lei irá garantir a isenção para aqueles doadores registrados em entidades reconhecidas pelo Ministério da Saúde. Esta liberação irá valer para concursos públicos em órgãos ou entidades da administração pública direta e indireta dos três poderes da União.
O concurso deverá informar em edital as condições da isenção. De acordo com os termos presentes no edital, o candidato deverá comprovar o cumprimento dos requisitos no momento da inscrição.
Entretanto, o Redome não concorda com o novo projeto de lei e afirma que este vai contra de um dos valores principais da doação de medula. Em nota oficial publicada à imprensa, o órgão afirma que a ação de doar não deve ser estimulada por nenhum privilégio.
“O cadastro no REDOME é, por definição, um ato voluntário. Conforme recomendações nacionais e internacionais de diversas organizações relacionadas à atividade, este não pode estar vinculado a nenhum tipo de vantagem ou recompensa. Por este motivo, o REDOME não concorda com a isenção da taxa de inscrição em concurso público como um incentivo ao cadastro da doação de medula óssea.”
Para o Redome e Hemoba, a consciência é o fator principal no processo de se tornar um doador. A pessoa precisa estar ciente de que seu nome estará registrado até completar 60 anos e que a qualquer momento poderá ser o responsável na participação de salvar uma vida.