Conheça os tipos de dieta, saiba como substituir nutrientes e veja onde comprar itens em Salvador
Foi-se o tempo em que os vegetarianos só comiam salada e batata-frita nos restaurantes e não tinham onde comprar produtos de origem vegetal. Seja por motivos de saúde, ou de convicção e paixão pelos animais, a dieta baseada no consumo de alimentos vegetais vem ganhando novos adeptos a cada dia – hoje já são quase 30 milhões de vegetarianos no país e 17% estão no Nordeste, segundo dados do Ibope Inteligência. Esse mercado, inclusive, cresceu 40% ao ano nos dois últimos anos.
Mais do que um hábito alimentar, deixar de consumir carnes vermelhas traz diversos benefícios para o bem-estar físico e emocional dos seres humanos. De acordo com especialistas e adeptos ouvidos pelo CORREIO, uma dieta sem carnes equilibrada ajuda na melhoria do sono, influencia diretamente na disposição física das pessoas, fortalece a pele e o cabelo e pode prevenir doenças como diabetes e câncer.
“O vegetarianismo vem crescendo a passos largos. Há uma tendência cada vez mais forte por novas filosofias de vida”, afirma a nutricionista baiana Andrea Burgos, que é membro da Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB) e tem especialidade em vegetarianismo. “O intestino integra e o cérebro são órgãos estritamente conectados. Quando você come a proteína animal, desenvolve uma bactéria ruim e isso influencia na produção da serotonina, que produz a sensação de bem-estar. Essa sobrecarga do intestino pode gerar tumores”, alerta.
(Foto: Reprodução/TV Bahia) |
Ou seja, além de ter uma melhor absorção dos nutrientes, vegetarianos garantem uma sensação de leveza, um sono bom, conseguem aliviar o estresse, equilibram a insulina e a produção de células.
Dietas variadas
O aumento de adeptos do regime nos últimos anos, acredita Andrea, está ligado ao maior acesso da população à informação e à crescente preocupação com a sustentabilidade. Mas, assim como ganha mais adeptos, o vegetarianismo também possui diversos estilos. “Tem o ovolactovegetariano, que consome produtos de origem vegetal, ovo, leite e derivados. Tem o vegetariano estrito, que não consome nada de origem animal. E existe o vegano, que além de não consumir animais e derivados, não usa roupa, maquiagem, medicamento, nada que envolva um sofrimento da vida animal como um todo”, explica Andrea.
Veja a pirâmide alimentar vegetariana (veganos não consomem ovos e produtos de origem animal, no topo) |
Diferente do que muita gente pensa, a especialista pontua que a alimentação vegetariana é completa, rica em fitoquímicos e antioxidantes, desde que tenha densidade nutritiva. “Tem que ter o equilíbrio em cada refeição, incluindo a gordura e a proteína de origem vegetal de boa qualidade”, orienta ela, desmistificando que uma dieta mais radical, como a dos veganos, não possa ser rica em proteínas: “Todo preconceito é fruto da grande falta de informação: dá para encontrar todas as proteínas em vegetais. Não é obrigatório que toda refeição ou todo alimento fonte de proteína tenha os nove aminoácidos essenciais. Eles podem estar divididos entre duas fontes não-completas, mas complementares, como arroz e feijão. Basta combinar cereais e leguminosos às proteínas. Boas fontes são a soja, que já é completa; grão de bico, leite de amêndoa, castanhas e quinoa”.
(Foto: Shutterstock) |
E as proteínas?
Tirar a carne vermelha sem fazer equivalências é o maior equívoco de quem inicia a dieta vegetariana. “O nosso corpo não consegue processar mais de 20 gramas de proteína por vez. Até mesmo para quem come carne, a quantidade ideal é de 0,8 a 1 grama por quilo de peso (da pessoa) por dia”, orienta. Ou seja, alguém que pesa 50kg deveria consumir no máximo 50 gramas de proteína distribuídos ao longo do dia.
E foi justamente esse erro que cometeu a produtora cultural Larissa Novais, 24 anos. Vegetariana há mais de um ano após tomar conhecimento do modo de produção cruel da indústria alimentícia, ela passou um tempo se sentindo fraca porque não fez uma dieta balanceada no início. “Apenas retirei a carne. Depois comecei a repor com outras proteínas – como ovo, cogumelos, etc”, conta. Hoje, além do aumento da diversidade de itens que consome, ela sente no corpo os benefícios dos novos hábitos: “Me sinto muito mais leve e disposta”.
(Foto: Shutterstock) |
Quem também sentiu os benefícios dos novos hábitos foi o estudante de administração Geovane Talon, 24. Em 2012, ele se tornou ovolactovegetariano e há quatro anos adota o estilo de vida vegano, excluindo totalmente o uso de produtos que envolvam sofrimento animal da sua vida. “Quando era apenas vegetariano, não senti uma grande diferença na saúde. Mas, depois que virei vegano, comecei a comer mais, emagreci mesmo sem querer e mantive meu IMC. Também melhoraram minha asma e meus índices como um todo, principalmente o açúcar e as gorduras boas”, conta ele, que não teve dificuldade de substituir os nutrientes: “Como coisas que não comia antes como grãos, castanhas, nozes, e tento variar tipos de vegetais para não cair no erro de comer sempre massa”.
Muito mais do que uma transformação na sua saúde, ele enxerga a mudança de hábitos como algo maior, que interfere no bem-estar do planeta:
“A indústria da carne é uma das maiores responsáveis pela emissão de gás carbônico, gera uma matança imensurável, etc. O veganismo, para mim, vai muito além da saúde: tem a ver com pensar no futuro e querer um meio-ambiente melhor”.
Assim como Geovane, a grafiteira e cozinheira vegana Sista Kátia, 32, mudou seus hábitos há cerca de 15 anos por questões políticas. Ela criou o projeto Divegana como forma de difundir o veganismo popular na capital baiana e na web. “Não acho correto a gente se colocar no topo da cadeia alimentar”, pontua ela, que quebra alguns padrões: o de que pessoas gordas podem ser vegetarianas e o de que vegetarianismo não é sinônimo de alimentação saudável. “Não é porque sou vegana que só como coisas saudáveis e naturebas. Amo acarajé, refrigerante, frituras e doces. Claro que tenho preocupação com a minha saúde, mas não deixo de comer o que gosto. Já o fato de eu ser gorda está muito mais ligado a uma questão biológica, genética e de padrão de beleza. Vários gordos são veganos e vivem muito bem”, fala.
Sista Kátia bate na tecla: vegetarianismo não é sinônimo de alimentação saudável |
Dentre as mudanças que ela sentiu desde que se tornou vegetariana estão a melhora na oleosidade e na acne da pele e no cabelo. “Sempre foi muito cheio e caia demais. Hoje a queda diminuiu e o brilho está bem maior. Fora o crescimento, que é muito rápido. Senti ainda uma melhora na minha disposição”, destaca.
O vegetarianismo também foi um divisor de águas na vida do empresário e fisiculturista Paulo Victor Pinheiro, 31, mais conhecido como Paru Vegan. Ele se tornou vegano há quase 17 anos, depois de ver um vídeo sobre crueldade animal. Tomou gosto por academia três anos depois da mudança em sua alimentação e estilo de vida. Assim, começou a combater a desconfiança de algumas pessoas que ainda acham que o vegetarianismo não nos oferece nutrientes suficientes para uma alimentação saudável.
(Foto: Arquivo pessoal) |
Paru se tornou expert não apenas no esporte, no qual já ganhou diversos títulos entre 2014 e 2017, e finaliza, esse ano, a faculdade de nutrição. Em 2016, abriu o Veganza Empório, um mercado, restaurante e lanchonete. Tudo para mostrar que é plenamente possível desenvolver músculos e ganhar competições sem que nenhum animal seja explorado para isso.
Tipos de dieta
Ovolactovegetarianos: Além dos alimentos vegetais, comem apenas ovos e leite e derivados como alimentos de origem animal
Lactovegetarianos: Além de não consumirem carnes, excluem ovos da dieta. É o tipo de vegetarianismo predominante em países como a Índia
Ovovegetarianos: Não consomem derivados do leite, mas comem ovos
Vegetarianos estritos: Não comem nada de origem animal, incluindo leite, ovos e mel
Veganos: São vegetarianos estritos e não consomem produtos de origem animal. O veganismo vai além da alimentação: é considerado uma filosofia de vida. Envolve ainda ideologia, vestuário, etc
Plant Based: Não é considerada vegetariana, mas tem como base os vegetais. Permite o acréscimo de peixe ou mesmo de carne, desde que em pequenas quantidades
Nutrientes para ficar de olho
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B12
O que acontece? A vitamina só é encontrada em alimentos de origem animal, como carnes, leites e ovos. Sua falta pode afetar a memória, a concentração, etc. Até mesmo os onívoros podem ter carência de B12.
Como conseguir? Algumas algas possuem o nutriente, mas a melhor opção é o suplemento, disponível em cápsulas, injeção e em produtos enriquecidos.
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Cálcio
O que acontece? O mineral essencial à saúde dos ossos costuma ser o maior problema na dieta vegetariana estrita. Em 100 gramas de brócolis, absorvemos 51 miligramas de cálcio, menos do que os 74 miligramas que aproveitamos com um copo de leite.
Como conseguir? Couve, rúcula, quiabo e brócolis. As bebidas vegetais fortificadas com cálcio também são boas escolhas.
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Ferro
O que acontece? Os vegetais também podem oferecer ferro, só que na versão não-heme, que tem taxa de assimilação de 2 a 20%. Dá para aumentar a captação do ferro não-heme em até quatro vezes deixando o feijão de molho por 12 horas e ingerindo alguma fonte de vitamina C com as refeições ricas no mineral, por exemplo.
Como conseguir? Os principais redutos no reino vegetal são as leguminosas, os cereais (aveia, quinua…), as castanhas e as verduras verde-escuras (couve, agrião e espinafre).
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Proteína
O que acontece? As fontes animais têm todos os aminoácidos essenciais. No caso das vegetais, é preciso ingerir maior variedade para assegurar um aporte adequado.
Como conseguir? Leguminosas em geral são excelentes fontes de proteína. Bons exemplos são feijão, grão-de-bico, lentilha e soja (que também pode vir na forma de tofu). Gergelim e quinua são outras opções.
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Ômega-3
O que acontece? Apesar da famosa gordura dos peixes também ser fornecida por fontes vegetais, essa versão não chega pronta para uso dentro do corpo. Ele tem de transformá-la em suas formas ativas. Por isso, melhor maneirar no uso de óleos como os de soja e girassol.
Como conseguir? Linhaça e chia são algumas das melhores provedoras de ômega-3 entre os vegetais – duas colheres de sopa por dia são suficientes.